A ESG (Environmental, Social and Governance) é conhecida por suas implicações nas práticas das organizações em relação ao meio ambiente, aspectos sociais e governança. Originada em 2004 através de uma publicação do Pacto Global em colaboração com o Banco Mundial, essa abordagem tem conquistado relevância, impulsionada pela crescente preocupação do mercado financeiro com a sustentabilidade. As dimensões ambientais, sociais e de governança desempenham agora um papel crucial nas análises de risco e nas decisões de investimento, colocando as empresas sob intensa pressão e vigilância.
O mercado atualmente direciona seu foco para a consecução dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que abordam os principais desafios e vulnerabilidades da sociedade. Estes objetivos foram adotados por 193 países membros da ONU durante a cúpula de 2015, dando origem à chamada “Agenda 2030”.
São estas metas: Erradicação da pobreza (ODS 1), Fome zero e Agricultura sustentável (2), Saúde e bem-estar (3), Educação de qualidade (4), Igualdade de gênero (5), Água potável e saneamento (6), Energia limpa e acessível (7), Trabalho decente e crescimento econômico (8), Indústria, inovação e infraestrutura (9), Redução das desigualdades (10), Cidades e comunidades sustentáveis (11), Consumo e produção responsáveis (12), Ação contra mudança global do clima (13), Vida na água (14), Vida na terra (15), Paz, justiça e instituições eficazes (16), e Parcerias e meios de implementação (17).
Atualmente há uma hipocrisia corporativa, que impacta profundamente as dimensões sociais, prejudicando mais da metade dos ODS (1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 10, 12 e 16). Tal hipocrisia resulta da ganância de grandes corporações que ao explorarem mão de obra em massa, com salários insustentáveis, comprometem o acesso básico aos ODS dos seus próprios trabalhadores.
Concluímos através de estudos, que um trabalhador precisa de um salário de R$ 2.640,00 em São Paulo para aderir minimamente aos princípios ESG. Isso levanta questionamentos sobre a real importância dada ao componente social nessas corporações. Levantamos o custo básico para um trabalhador viver com sua família com quatro integrantes em São Paulo, conforme segue:
Aluguel – R$ 900,00 (ODS 10), água e saneamento – R$ 150,00 (ODS 6), gás e energia elétrica – R$ 350,00 (ODS 7), transporte – R$ 150,00 (ODS 9), higiene e Saúde – R$ 250,00 (ODS 3), alimentação – R$ 600,00 (ODS 2), encargo (INSS) – R$ 195,00 e outros custos – R$ 45,00, totalizando: R$ 2.640,00.
Não levamos em consideração educação, vestuário, comunicação e cultura, ficando evidente que empresas que pagam salários abaixo desse valor não podem em hipótese alguma serem consideradas sustentáveis.
No Brasil, a relação dos ODS com os negócios está presente nas grandes empresas. Segundo levantamento realizado com as companhias que fazem parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores (B3) 83% delas possuem processos para integração dos ODS com as estratégias, as metas e os resultados corporativos. Será verdade? Quem não dá condição ao trabalhador ter o básico do básico está preocupado realmente com práticas ESG?
O mercado precisa condenar a hipocrisia corporativa, e os trabalhadores devem exigir que as empresas assumam um papel ativo no desenvolvimento econômico e social. O movimento sindical desempenha um papel fundamental ao alertar os trabalhadores sobre práticas hipócritas e chamar a atenção do mercado para tais comportamentos, pois a reação da classe trabalhadora deve ser tão intensa quanto o desequilíbrio social gerado por tais corporações.
Lutar por igualdade, justiça e verdadeira sustentabilidade é responsabilidade de todos. A hora de desmascarar a hipocrisia corporativa e exigir ações concretas é agora.
*Por Eduardo Annunciato (Chicão)
Presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Água, Energia e Meio Ambiente (Fenatema) e do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo.